Minha historia deve ser contada do principio, isto porque não quero apresentar-lhes apenas o homem que sou hoje, mais sim os motivos que me levaram a ser assim.
Os velhos anciões contam que há muito tempo atrás existia um continente rico e prospero, lá existiam terras ricas em nutrientes para o plantio, um lago gigantesco que fornecia água pura e cristalina para todas as regiões e principalmente a proteção divina personificada por uma estatua outrora grandiosa e brilhante.
Pessoas de outros lugares viam em busca de uma nova vida fugindo amedrontados de pragas e maldições que assolavam seus continentes, como o frio mortal de Morkon ou o gigantesco monstro marinho que assolava as águas de Portus. Porem em algum momento da historia essa terra que um dia já foi chamada de paraíso encontrou seu fim! Ela foi assolada por uma maldição tão terrível que nem os próprios deuses a usariam como castigo.
Um grande abismo se abriu ao norte do continente e dessa fissura transbordava um miasma denso e fétido, dizia-se que a fissura era tão profunda que alcançou as profundezas do inferno e que o miasma era na verdade oriundo dos gases de corpos pútridos torturados eternamente.
Algum tempo após do acontecimento começou a surgir boatos de que as almas já não conseguiam abandonar seus corpos após a morte e que os mortos podiam caminhar mesmo sem ter um coração bombeando sangue, obviamente já não eram os mesmos toda consciência havia desaparecido e no lugar havia se instalado a insanidade.
Com o passar do tempo esse paraíso foi entrando em colapso, fadado a conflitos intermináveis contra os mortos, a paz começara a se tornar uma lembrança distante. Muito se especulava sobre a real causa da maldição muitos atribuíram que os mortos voltavam à vida por terem respirado o miasma da fenda, mais nem todos compartilhavam dessa idéia. Então a população foi se segregando cada um defendendo suas crenças, mais todas elas com o mesmo objetivo, escapar da maldição.
Foi nessa terra devastada pelos mortos que começa minha jornada, nasci em uma pequena vila ao norte do continente chamada Faceless Visage a cultura local acreditava que a causa da maldição não estava no miasma mais sim em vislumbrar os mortos e as trevas, por isso todo recém nascido tinha seus olhos arrancados nos primeiros dias de vida, obviamente grande parte desses bebes não resistiam ao procedimento.
Minha mãe era uma aldeã comum, também havia perdido a visão nos primeiros dias de vida e aprendeu a viver utilizando os outros sentidos, mais apesar de toda a desgraça que assolava sua vida ela sempre tinha um grande sorriso no rosto. Já meu pai era totalmente o oposto dela, ele era o monge fiel em suas crenças e responsável por arrancar os olhos dos recém nascidos, um homem tão manchado de sangue e atormentado pelas almas dos que morreram, possuía em seu coração apenas ódio e em sua mente a insanidade reinava.
Durante a gravidez minha mãe queria que eu tivesse uma vida diferente longe daquele continente amaldiçoado e longe dos costumes locais, por isso após meu nascimento ela fugiu de nossa vila me levando em seu colo, meu pai enfurecido por ela ter desonrado os costumes locais a caçou como se fosse um animal, ela fugiu por Dread Pass Of Mortos que na época era uma rota de fuga para viajantes que queriam fugir do continente pelo norte, uma região longe do miasma e livre de fiscalização já que se encontrava em território morto vivo. Infelizmente ela foi morta pelo meu pai antes de poder embarcar em um navio, mais me confiou a um contrabandista que estava indo para outro continente.
Em Portus fui vendido pelo contrabandista que minha mãe confiara, veja bem, recém nascidos valiam muito como escravos pois podiam ser moldados conforme a vontade de seu dono. Por cinco anos vivi na Cidade de Veils um local repleto de piratas, contrabandistas onde o mercado negro aflora livremente, durante esse tempo sofri todos os tipos de abusos e torturas, pois meu dono um homem nojento e asqueroso, queria me moldar forte o suficiente para agüentar o trabalho escravo dentro das minas de carvão.
E isso realmente me tornou forte, mais posso dizer que essa força era gerada em meu coração pelos anos de sofrimento que vivi e hoje pensando bem eu estava me tornando alguém igual ao meu pai. Um dia vi toda minha sanidade se despedaçar, após ter ficado dias fechado em uma cela sem água ou alimento, meu dono me contou uma historia, na verdade uma versão distorcida da minha historia. Contou-me que minha mãe era uma prostituta do continente de Stronghelm e que meu pai era um sádico que havia torturado e mutilado minha mãe por ciúmes e depois me vendido como escravo.
Após ouvir isso todos meus pensamentos se cessaram e todo aquele turbilhão de emoções se acalmou e algo tomou conta do meu interior, um ódio tão profundo de mim mesmo e de tudo que me cercava. Eu me encontrava acorrentado pelos pulsos naquela sala escura tão familiar, ate que levantei os olhos vagarosamente e vi o rosto do meu dono, ele estava tão próximo sustentando um sorriso sádico que podia ouvir claramente sua respiração. Avancei ferozmente em sua garganta e arranquei com uma mordida toda sua traquéia, senti o gosto de seu sangue entre meus dentes e vi os brilhos dos seus olhos se esvaindo enquanto ele engasgava.
Seu corpo morto caiu ao meu lado possibilitando-me alcançar as chaves em seu bolso, consegui me soltar e fugir da cidade de Veils, apesar de eu estar todo coberto de sangue a fuga foi fácil, passar despercebido em uma cidade onde todos vivem sujos e fedidos não é algo complicado. Então corri sem saber nada do continente que estava à minha frente, não sei ao certo quanto tempo passou, pois estava desnutrido e desidratado, sentia que minha cabeça iria explodir. Ate que adentrei em uma floresta tão densa e escura que não se via a luz do sol a única iluminação que existia vinha de totens com os olhos em chamas, por todo local era possível ver mascaras e crânios pendurados nos troncos das arvores e eu tinha a estranha sensação que sempre estava sendo observado, ate que então eu ouvi um farfalhar de folhas e vi um vulto lançar uma enorme lança em minha direção, ela me acertou bem no meio do peito me jogando alguns metros de distancia.
Acordei algum tempo depois tonto e dolorido olhei em volta e notei que estava dentro de um tronco de arvore ali existia alguns moveis rústicos que foram construídos com materiais provenientes da floresta, havia uma bandagem em todo o meu dorso e percebi que algum tempo já havia se passado desde que a lança atravessou meu peito. Adentrou se então um homem diferente de todos que eu já tinha visto, no momento pensei ate que seria um demônio, ele era extremamente alto e esquio, sua pele era de uma cor escura e seu corpo todo pintado com gravuras tribais, nos braços e pernas usava algum tipo de ornamento feito das folhas das arvores e todo seu rosto estava coberto pelo crânio de alguma criatura que ele usava como mascara.
Eu mal sabia que um dia chamaria aquele lugar de lar e aquele demônio de irmão, acabei sendo criado pelos nativos, guerreiros que viviam da caça e alquimia, eram mestres em uma magia antiga chamada Shadow Arts que possibilita a manipulação de poder a partir de espíritos antigos. Eram extremamente ferozes e se alimentavam principalmente da carne humana de viajantes que adentravam em seu domínio, após algum tempo descobri que fui poupado da morte porque ao me encontrarem notaram que havia sangue humano em minha boca, por isso acharam que eu era um canibal como eles.
Ali em Florest of Faces aprendi a ser um caçador e viver dos meus instintos, aprendi o básico sobre alquimia e os pilares da magia das almas. Porem o meu passado ainda me atormentava, fui instigado a sair de Portus e voltar para meu continente de origem para descobrir a verdade sobre meu passado, o meu destino agora é incerto mais sei que aonde quer que eu vá à morte e a destruição irão me acompanhar.